RECOVERY IN GOAT MUSCULAR SPASTIC AS RESULT OF TETANUS

Anna Beatriz Bruno da Silva'


INTRODUÇÃO

Por mais expressiva e eficiente que seja a profilaxia, há longos anos, o Tétano continua ocorrendo, mesmo que esporadicamente (Cox, Murray, De Bowes, 1995).
Embora não existam dados que discorram fielmente sobre números, é estimado que aproximadamente 70% dos animais acometidos morram a cada ano ocorrendo perdas significativas com relação a animais de produção no aspecto quantitativo do rebanho (Cox, Murray, De Bowes, 1995).
Protocolos de diversos autores (George, 1993; Cox, 1995; Kohler, 1999; Hahn, 1999) apontam para novas técnicas de recuperação de pacientes, sem sequelas prejudiciais à rotina criatória (Casalis, 1990).
Apesar de, na Medicina Humana as varias técnicas fisiátricas e/ou fisioterápicas serem aplicadas largamente para as mais diversas desordens, principalmente para aquelas de cunho neurológico, na Medicina Veterinária, embora tais técnicas comecem a ser adotadas, existem poucas informações que indiquem sua utilização. O sucesso da implementação destas técnicas em casos observados no Centro de Estudos e Recuperação Animal - CERA, provavelmente servirá para a difusão e aperfeiçoamento destes métodos fisioterápicos de recuperação animal.

TRATAMENTO CLÍNICO

Após inspeção completa e determinação do foco infeccioso originário, com ênfase para processo traumático, obstétrico ou cirúrgico (Robisson, 1987), têm cabimento as práticas seguintes: repouso em posição confortável, cuidados com ferimentos, relaxamento muscular (tranquilizantes), alimentação adequada, hidratação, monitoramento respiratório, esvasiamento controlado de intestinos e bexiga, neutralização da toxina livre, imunização antitóxica (toxóide), combate à infecção (antibióticos).
Para os que admitem a eutanásia como solução para os casos de Tétano, principalmente em equideos, vale a opinião em contrário de Cox (1995), achando o tema por demais polêmico.

TRATAMENTO FISIOTERÁPICO

Toda a metodologia fisioterápica atual pertinente ao Tétano dirige-se ao tratamento e à recuperação de sequelas de origem intra ou extracerebral; baseia-se nas funções neuromusculares controladas pelos transmissores pré-sinápticos que geram reflexos através da musculatura somática.
Dentre as técnicas alternativas para melhorar a espasticidade, relacionam-se a eletroterapia, a escovação, a termoterapia, a hidroterapia e a manipulação.
Isolada ou conjuntamente, pode ser usada a acupuntura, nos pontos:
VB2O (Feng chi), B60 (Keen lun), VBl6
(Fong fu), VB3O (Kuan tiau) e VB34
(Yang ling quan).

PROGNÓSTICO

O prognóstico está diretamente relacionado à progressão da doença. Os animais que sobrevivem por mais de sete dias têm chance de razoável à boa para a recuperação completa (George, 1993).
Quanto mais cedo o diagnóstico for feito e mais rápido o tratamento for implantado, o prognóstico tende a melhorar e, se o animal sobrevive, a melhora clínica é lenta e a recuperação total só ocorre em 6 semanas ou mais (Cox, 1995).
Lesões de decúbito, fraturas e escoliose (Mair et al., 1998), laminite, pneumonia aspirativa e pleuro-pneumonia (Malikes et al., 2000), podem ser sequelas fatais. De acordo com Rossdale, Ricketts (1974), a morte por Tétano está em tomo de 70-80% dos animais infectados.
Quando tende à melhora, em duas semanas o animal apresenta redução dos sinais clínicos com remissão dos mesmos em 4-6 semanas. Porém, de acordo com Beer (1999), o animal pode ficar com certa rigidez de movimento e apresentar espasticidade muscular permanentemente.

RELATO DE CASO

No Hospital Veterinário do Centro de Estudos e Recuperação Animal (CERA), da Universidade Estácio de Sá, Vargem Pequena, Rio de Janeiro, RJ, foi atendido o animal assim identificado:
Espécie - Capra hircus; Raça - SRD; Nome - Maricota; Sexo - fêmea; Idade- 08 meses e 27 dias; Peso- 18kg; Procedência - Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ.

Anamnese

Nascido de parto normal, mantendo excelente estado de saúde até então, movimentando-se bem e alimentando-se de milho, ração para coelhos, casca de mamão e vegetais folhudos. Há 3 dias apresentou dificuldade para se alimentar e se movimentar, abdômen distendido e flatulência; em atendimento clínico emergencial recebeu soro antitetânico e foi aconselhada internação.

Exame físico:

Consciente e em bom estado nutricional, mantinha-se em decúbito lateral permanente, com espasticidade nos 4 membros, tremores e rigidez muscular generalizada, opistotono, trismo mandibular, cauda em bandeira, nistagmo horizontal, blefaroptose, hiperestesia, timpanismo, taquipnéia e disfagia. Frequência cardíaca - 16 bpm e temperatura retal - 42,2°C. Diagnóstico presuntivo: Tétano (Figs 1 e 2).

     fig1 Redevet fig2 Redevet    

Figura 1 - Espasticidade dos quatro membros, opistótono, cauda em bandeira, rigidez muscular
Figura 2 - Prolapso da terceira pálpebra

Análises laboratoriais:

Foram realizadas, segundo indicações de Ferreira Neto et al. (1977) determinações de valores sanguíneos da paciente no 2° dia de internação, aos 30, aos 50 e aos 100 dias.
O controle objetivou os índices hematológicos e bioquímicos mais relacionados com o processo mórbido diagnosticado, levando em conta a espécie, o sexo, a idade e as condições gerais vigentes nas várias fases evolutivas.
O eritrograma (eritrócitos, hemoglobina, VO, VGM,CHGM) revelou valores aproximadamente normais na primeira verificação, enquadrando-se na normalidade total a partir da segunda.
O leucograma (leucócitos totais, linfócitos, monócitos, mielócitos, jovens,bastões, segmentados, eosinófilos, hasófilos) denunciou leucocitose, monocitose, e eosinofilia no primeiro cálculo, ajustando-se daí por diante e configurando absoluta normalidade nas avaliações finais.
A bioquímica clínica (uréia, creatinina, ácido úrico, cálcio, fósforo) mostrou-se compatível com os padrões de normalidade sérica em todas as análises realizadas.

Tratamento clínico:

De saída, foi adotada suspensão por cintas em brete adaptado especialmente para propiciar a estação (Fig. 3), contando as tentativas de locomoção com o auxilio de carrinho próprio (Fig. 4); a alimentação foi, de inicio, parenteral, com soro fisiológico IV na dose de 500 ml durante 5 dias, passando a soro de Ringer glicosado a 5% e soro de Ringer lactosado, na mesma dosagem e durante o mesmo tempo, sucessivamente; a partir do 6° dia, foi administrada água em mamadeira, bem como capim tenro, até que o animal se alimentasse sozinho.
A medicação constou, nos primeiros 10 dias, de soro anti-tetânico na dose de 5 ml por vez, sendo 1/2 ampola IM e 1/2 IV, acompanhando-se do antimicrobiano Pentabiótico* em 3 séries, de 1200000 UI, via IM por 9 dias, 6000000U, via IM por 5 dias e, 2400000 UI, via IM por dias consecutivos. Por fim, foi aplicado o ansiolítico Diazepam** ,0,8 ml por vez, via IM, durante 56 dias.

Tratamento fisioterápico:

Com trinta dias de internação, foi iniciado o tratamento fisioterápico, baseado no principio de desensibilização neuro-sensorial e assim procedido:
• elétro-estimulação - por 30minutos diários, no período de 30 dias, em cada um dos membros;
• escovação - alternando escovas macia e dura (15 minutos cada), no sentido do pêlo, durante 30 dias;
• hipertermoterapia - sob a forma de compressa quente aplicada nas articulações durante 20 minutos diários;
• Acupuntura - agulhas aplicadas nos pontos anteriormente determinados em períodos de 5 a 6 vezes por 15 segundos, aumentados para 6 a 10 vezes por 20 segundos.
• Hidroterapia - diariamente, após 90 dias de tratamento em conjunto com a termoterapia e a acupuntura.


Cronologia evolutiva:


dia 0- dia da internação e início de tratamento.
dia 2 - comprovação da espasticidade generalizada e da sintomatologia concomitante, estabelecendo-se planejamento terapêutico.
dia 7 - acentuação das manifestações hiperestésicas e da tetraplegia. dia 10 - opistótono, trismo, timpanismo e secreção vaginal purulenta. Normalização do posicionamento da cauda e tentativa de preensão do alimento.
dia 15- esforço para alterar o decúbito.
dia 20 - presença de apetite e sede, eliminação norma de fezes
dia 25 - abolição do opistótono e tentativa de adotar o decúbito esternal; melhora da espasticidade e da atividade motora.
dia 30 - esforço para estação.
dia 35 - estação por meio de cintas no brete, por tempo mínimo.
dia 37 - uso de cintas por 2 horas a cada dia.
dia 55 - suspensão dos medicamentos e manutenção da fisioterapia. dia 70 - rotina de acupuntura, hidroterapia e manipulação, reduzida espasticidade e estação sem apoio.
dia 80 - movimentos em estação sem apoio.
dia 100- estação com esforço próprio, movimentos cautelosos, marcha consciente embora pouco segura.
dia 150 - passadas seguras, com o casco inteiro, caminhando pela Clinica, sem auxílio do carrinho.
dia 160- articulação normal dos membros posteriores.
dia 165 - movimentação segura e ritmada, com boa articulação dos 4 membros.
dia 180 - alta clinica (Fig. 5).

  fig3 Redevet fig4 Redevetfig5 Redevet     

Figura 3 - Animal mantido em brete, suspenso por cintas
Figura 4 - Locomoção utilizando carrinho
Figura 5 - Alta clínica


CONCLUSÕES

As condições em que foi desenvolvida a presente exposição, permitem concluir que:
• A recuperação completa da paciente, no caso clinico relatado, deveu-se fundamentalmente à precocidade e segurança do diagnóstico;
O esquema terapêutico baseado no uso conjunto de soro específico, antimicrobiano e ansiolítico, associado a medidas higiênico-sanitárias, revelou-se plenamente eficaz no tratamento das sequelas do Tétano;
• A fisioterapia foi capaz de maximizar os efeitos do tratamento clínico aplicado ao animal enfermo.
• A acupuntura constitui-se em processo auxiliar importante para a recuperação das alterações neuro-musculares decorrentes do Tétano;
•O modelo adotado em relação à cura completa do Tétano em caprino confirmou o êxito da disciplina clínica quando judiciosamente aplicada, seja qual for a gravidade do quadro mórbido instalado.

AGRADECIMENTOS

• À Profª Natalia Rebouças – por ter aceito a difícil tarefa de orientar.
• À Dra Silvia Túrner - pela paciência durante o curso deste trabalho e dedicação.
• À Profª Adelaide - pelas fotos e pelas horas dispensadas em minha atenção.
• ao Prof° Alexandre Innocêncio - pela participação fundamental para a conclusão deste trabalho.
"O término deste trabalho teria sido impossível sem os esforços extraordinários de muitas pessoas que lhe dedicaram, sem reservas, tempo e conhecimentos".

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DELISA, J. A. Medicina de Reabilitação -Princípios e Prática. v.2 Ed.: Livraria Atheneu, 1992.

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